domingo, 5 de dezembro de 2010

Fome.

Lambeu os beiços procurando por alguma migalha que repousando nos lábios fartos e rosados, se tornou indispensável. Era a fome. Na amplitude da palavra, desta vez, quis dizer fome apenas. Em outras épocas de sua vida, quando filósofo, teria dito: não é fome, é um estado de espírito que cresce divagando sobre a alma que almeja, a alma que eterna brilha procurando ascender. Hoje em dia, traduzia o desespero, o grito que lentamente carcomia seu semblante e gastava-lhe a essência, isso era o que sentia. Isso era a fome. Os braços finos, as pernas fracas, os pés grossos. Grossos como cascos de cavalo. Respirou fundo, e tragando o ar com força sobrenatural, buscava encher o peito de despeito. Sua língua úmidamente seca, sentia o gosto de pólvora, e dormia no chão da boca, que vazia e escura, chorava. Na árvore mais próxima sentou. Quem nasce filósofo, vive filósofo, filósofo morrerá. Pensou: "o corpo vivo, é o que come, como narra a ciência. O que ela não diz, é que não se pode viver alimentando-se de amor." Depois disso, restou uma memória, um corpo e uma fome. Uma fome intensamente e unicamente de paixão.

Um comentário: