quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

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As malas prontas. O vento voando sobre meus cabelos negros. A saudade de algo ou alguém que cresce no peito. Não digo Adeus, mas Até Logo!

sábado, 11 de dezembro de 2010

Mar interior.

Um mar imenso, um azul, uma onda, um baque. Assitindo ao mar, tão impenetrável, pude notar o quão insignificante são as lágrimas que com dor caem dos meus olhos. Que pequenas são! Vi o mar acontecer. As ondas baterem nas pedras e ressoarem numa música de poeta, trazendo um sossego que cala as mágoas e esconde os gritos. Os grãos de areia, que sem-vida vivem, com cada mergulhar, se movem, sendo assim, diferentes do que eram antes. Sendo grãos, mas não apenas grãos, sendo grãos, sendo areia, e por fim, sendo praia. O Sol, ardente, brilhante, intangível. Os raios invadindo a matéria aquática, fazendo com que cada concha seja mais que concha, seja luz, vida. As ilhas, que ao longe prostradas estavam, cantavam e dançavam, e num borbulhar, pude cantar com elas. Inspirei tão fundo o ar que me cobria as células e a maresia encheu meus pulmões. Um mar imenso, um azul, uma onda, um baque. Que agora, moram dentro de mim.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

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Lembra quando no meu ouvido você falava que não tinha que temer a morte? Você dizia que a morte é a nossa única certeza na vida e ria enquanto dizia, que se ninguém morresse, não haveriam estrelas no céu! Bom, eu nunca te contei no que acredito e acreditava. Mas tenho que admitir, que agora que você se foi, te procurarei no céu, toda noite. E não sentiria falta das estrelas contanto que você estivesse aqui.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Fome.

Lambeu os beiços procurando por alguma migalha que repousando nos lábios fartos e rosados, se tornou indispensável. Era a fome. Na amplitude da palavra, desta vez, quis dizer fome apenas. Em outras épocas de sua vida, quando filósofo, teria dito: não é fome, é um estado de espírito que cresce divagando sobre a alma que almeja, a alma que eterna brilha procurando ascender. Hoje em dia, traduzia o desespero, o grito que lentamente carcomia seu semblante e gastava-lhe a essência, isso era o que sentia. Isso era a fome. Os braços finos, as pernas fracas, os pés grossos. Grossos como cascos de cavalo. Respirou fundo, e tragando o ar com força sobrenatural, buscava encher o peito de despeito. Sua língua úmidamente seca, sentia o gosto de pólvora, e dormia no chão da boca, que vazia e escura, chorava. Na árvore mais próxima sentou. Quem nasce filósofo, vive filósofo, filósofo morrerá. Pensou: "o corpo vivo, é o que come, como narra a ciência. O que ela não diz, é que não se pode viver alimentando-se de amor." Depois disso, restou uma memória, um corpo e uma fome. Uma fome intensamente e unicamente de paixão.

sábado, 27 de novembro de 2010

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E como uma máquina, eu espero o cronômetro marcar 00:00 e me apagar.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

574.

As chamas consumiam os vidros que ao longo do tempo embaçavam. Todos no interior, gritavam frenéticamente, esquivando-se do calor ardente e refugiando-se na fé. Eu fiquei sentada. Não movi um músculo sequer. Não gritei. Tampouco tive medo. O fluxo de pessoas era demasiado para o espaço, que parecia ficar cada vez menor. As paredes me esmagavam, meus pulmões latejavam de dor, minha face molhada pelo suor, minha boca arfava ofegante, involuntária. Nos meus olhos, eu vi o vermelho do fogo e a dor me chegou à pele, que sentia a aflição, que sentia a agitação. Mulheres, homens, crianças, todos gritando, todos correndo, todos agarrando-se à algo ou alguém, todos acreditando, ou querendo acreditar. E eu imóvel. Foi como assistir à um coração, que antes de se apagar, palpita como nunca antes, e depois, sem avisos, se fecha num mundo próprio, sem volta. A tosse seca aflorava por sobre meus lábios frios e quentes, secos e irritados. Olhei pro meu pulso, e vi. Vi as horas, vi o tempo passar. Minuto por minuto. Segundo por segundo. Foi tão indiferente. Com a ponta dos dedos, escrevi no vidro o que devia. Fechei os olhos e senti as pontas dos dedos adormecendo, senti uma dor intensa no meu corpo, mas em silêncio fiquei. Minhas pernas arederam no fogo amarelo. Depois de um tempo, que a chama incandescente se apoderava de mim, esta assumiu a cor vermelha. O fogo se misturava com meu sangue. Doeu. Aliviava meus músculos, o sofrer inacabável. Tentaram me acordar do transe, tirar-me o único que me restava: a dor. Não conseguiram. Adormeci ali. Viu-se no vidro do ônibus escrito: Amo-te, vivi por ti, morrerei por ti.

456.

Foi no ônibus em pleno movimento que meus sonhos desbaram. As lágrimas que tentavam se agarrar à algo pra não cairem, jorravam sem fim, sem rumo, sem jeito. Você mal percebeu o que estava aconetcendo comigo, mal consegue entender o que isso significa. Meu mundo desabou com palavras ditas e tudo se chocou contra mim. Morrer não me pareceu tão terrível quanto o que estava por vir. Uma parte de mim, olhava pra janela, fugindo dos seus olhos que tanto me diziam, e olhava procurando por indícios de que o destino não fôra tão cruel, não tivesse me tirado a chance de ser feliz. Não consigo suportar o mundo sem te ter ao meu lado. Você é meu mundo. O pior é que não tem jeito. Eu sei que pra você, tudo vai mudar, vai doer e vai passar. Mas pra mim, a ferida, vai ser tão eterna quanto meu amor. Eu me vi sangrando, e estava tão em paz... Te beijei, como se fosse a última vez, senti teus braços, para nunca esquecê-los. Desci do ônibus e disse adeus. Adeus à você. Adeus à felicidade. Adeus à vida.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Way Back Into Love.

've been living with a shadow overhead
I've been sleeping with a cloud above my bed
I've been lonely for so long
Trapped in the past, I just can't seem to move on

I've been hiding all my hopes and dreams away
Just in case I ever need them again someday
I've been setting aside time
To clear a little space in the corners of my mind

All I wanna do is find a way back into love
I can't make it through without a way back into love
Oh oh oh

I've been watching but the stars refuse to shine
I've been searching but I just don't see the signs
I know that it's out there
There's gotta be something for my soul somewhere

I've been looking for someone to shed some light
Not somebody just to get me through the night
I could use some direction
And I'm open to your suggestions

All I wanna do is find a way back into love
I can't make it through without a way back into love
And if I open my heart again
I guess I'm hoping you'll be there for me in the end

There are moments when I don't know if it's real
Or if anybody feels the way I feel
I need inspiration
Not just another negotiation

All I wanna do is find a way back into love
I can't make it through without a way back into love
And if I open my heart to you
I'm hoping you'll show me what to do
And if you help me to start again
You know that I'll be there for you in the end

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Enceno o fim e enfim começo.

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Without you the days are like: Moanday, Tearsday, Wasteday, Thirstday, Frightday, Shatterday and Sadday.

Existir inexistente.

Brinquei de não existir, hoje. Por um momento, fui um fantasma e voei como a chama da vela que incandescente é livre. Fui impassível, impassável, mas não impossível. Nada é impossível. Alguns segundos eu tive para dedicar à mim mesma, esquecendo o ar, as pessoas, os sonhos, os sentimentos, o todo e o nada, e lembrando só de mim. Meu coração flutuava no meu peito e eu o enxerguei dançar, num palpitar ingênuo, celebrando a oportunidade de "não ser" nesse mundo que tudo é. Meus olhos viajaram no interior marrom deles mesmos, vendo a vida como um filme mudo e em preto e branco. Por um tempo, estava no branco do nada e do tudo, esperei ali sentada. Ouvi os pássaros que cantavam lindamente em sinfonia com os grilos que cricrilavam intensamente. O cheiro de rosas aparecia, vindo do meu sorriso que aflorava. Minhas pernas foram ficando cobertas de sal e água, da chuva que descia dos meus olhos, a minha alma voou, e escapou nas lágrimas. Seu beijo doce era o único que senti depois. Foi aí que lembrei, que é por você, e mais ninguém, que quero existir. Brinquei de não existir. Hoje, também agradeci por existir e ter alguém tão inexistente quanto você.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Solidão Junta.

Você é meu.
Assim como a gota de orvalho,
respingando numa dança,
toca a folha da relva, doce, quieta e serena
pertence à luz divina do raio de sol amarelo.

Você é seu.
Assim como o mundo gira em seu eixo,
tranquilo, indomável, eterno,
e pertence à ele e mais nada.

Você é nosso.
Por que eu sou tua,
ou um dia já fui,
assim como o fruto um dia cai
e sozinho fica.

E a solidão,
se é tão sozinha quanto dizem,
por que sempre há alguém que a sente?

A solidão tem quem a sinta,
e quem a sente, tem
a solidão.

Você é minha,
eu sou sua,
você e nossa,
você sou eu
e eu sou a solidão.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Anjo.

Com um canto angelical,
adormeci as pálpebras exaustas
corroídas por um passado surreal
na pele branca e sem vida,
no negro eterno e profundo que é a escuridão.

A gota de orvalho caiu
mais uma vez na relva,
que banhada estava pelo brilho do sol,
levando ao meu semblante mórbido,
as luzes e cores de um arco-íris preto e branco.

O vento com rosas soprou
elevando meus cabelo negros e loiros
num vôo sem graça e sem direção,
e cobriu-me os pómulos,
que escondidos pela pele do tempo,
jaziam sem cor e coloridos.

O frio chegou-me aos ouvidos
e ouvi o que tentava me dizer,
o arrepio que por sobre minha coluna desceu,
num ritmo fenomenal,
me transportou aos teus braços.

Suas veste brancas
banharam meu corpo,
e fundiram minha alma
com a sua,
e suas asas vivas e mortas,
envolveram minha carcaça numa viagem só de ida.

Ó, anjo,
salvastes minha alma do frio que percorre,
do vento que sopra,
do olhos que se selam.

Salvastes minha morte,
e continuo morta.
Morta e mais viva que nunca.



Por Martina Davidson, que escreve ao seu anjo. Espero que me ouças. Espero um sinal.

sábado, 13 de novembro de 2010

Português.

Ele caminhou até ela cheio de seus anaforismos e anacolutos. Carregava a língua no peito e os verbos cobriam-lhe o olhar. Seu andar firme, completo, como se fosse ele mesmo um grande e rico dicionário, com tantas, mas tantas palavras... E ela sentada esperou. Não respirou, não piscou, não se moveu. Batendo nos ombros dela, de uma maneira quase suave, ele disse:
- Estive procurando por você.
- Também estive. - respondeu ela.
- Ora, mas eu mal a conheço! Só vim até você devido ao livro de Língua Portuguesa que esquecestes sobre minha mesa.
- Bom, viestes... E aqui estamos: eu, você e livro, como se fossemos um só. Eu em você, você em mim, e nós no livro. Se você pensar, somos uma história, acabamos de dar vida à um livro.
- Começo a desconfiar se foi uma boa idéia eu ter vindo até você.
- Não sei se foi boa, mas foi. Tanto é que você está aqui.
- Bem apontado.
- ...
- Preciso ir. Amanhã temos teste de português, e nem todos nós temos a sorte que você tem de nascer com dom para as palavras.
- Se quiser te ajudo.
- Não quero incomodar.
- Já sei, por que não traz sua boca pra perto da minha e assim te ensino as palavras?

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Pensamentos de uma tarde chuvosa.

Acordei tudo.
Dormi nada.
Senti flores.
Chorei versos.
Gritei dores.
Soprei mágoas.
As coisas mudam. Querendo ou não, elas mudam.
As pessoas assumem papel de mosntros.
Monstros perversos e indomáveis.
E esses monstros são o crânio.
O crânio, é a gente.
A gente é o mal.
As gentes são o mal.
O mal.
Adormecer no bom.
Acordar no mal.
Sentir mares.
Chorar almas.
Gritar músicas.
Soprar presentes.
O presente é relativo. Querendo ou não, ele não volta, não se repete e tampouco se concretiza.
As pessoas são o presente.
As pessoas são presentes.
Você é um presente.
E você, sou eu.
Que presenteia.
Presente finito e eterno.
Adormecer pra sempre.
Acordar dormindo.
Sentir nada.
Chorar tudo.
Gritar por ajuda.
Soprar a vida.
A vida que voa. A vida que como um sopro, voa...

As coisas.

Ontem, as coisas doeram. Senti a derrota preenchendo os milímetros do meu vermelho sangue, dono das minhas veias, transpotador do sentimento. O sentimento que percorre no interior da minha pele trazendo o arrepio intenso. As coisas bateram em mim como se estivesse em um carro à 220 quilometros por hora e me chocasse contra uma parede cinza de concreto. Nada nem ninguém conseguiriam me tirar a dor fulminante e fóbica que se apoderava de mim. O tudo me pareceu tão nada quanto o próprio nada, que é pra mim, um quarto escuro e vazio de sentimentos, prazer, culpa, dor, amor, tempo, céu, chão. A dor corría minha feições feridas pelo que o tempo um dia me trouxe, deixando-me encurralada na esquina da minha própria mente, sendo atacada por milhões de arrependimentos famintos por retorno! Ontem, entrei em transe, pois as coisas doeram. As coisas doem. Senti o vento frio e as gotículas de chuva nas minhas pálpebras adormecidas no branco da minha pele e no negro da escuridão. As coisas me interromperam acordando-me de um conto de fadas. Meu coração morreu, me deixando uma carcaça completamente oca. Acontece, que as coisas sem você, doem. E você não faz a mínima idéia. Se você se for, vou estar numa caída eterna pra lugar nenhum. As coisas iriam me doer sempre.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

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Parabéns, você conseguiu. Aguou o café da minha vida, que ficou sem gosto, sem graça, sem café. Ficou só água.

Café.

Hoje de manhã, meu café está diferente. Fiz tudo como sempre faço, mas o gosto dele, amargo e puro, está muito diferente. Talvez seja culpa dos meus pensamentos, que tendem a voltar à você. Que adormeceram e amanheceram dentro de memórias em que você protagonizava meu coração e mergulhava nas profundezas dos sentimentos cor de coral. Pra mim os sentimentos são coral, nem vermelhos, nem rosa, nem verdes, apenas corais. Por que coral, coral não é nada. E é tudo. Talvez esteja diferente pelo medo que se apodera da minha pele fazendo-a arrepiar-se com o soprar do vento frio da solidão crescente. Ou talvez os sonhos interruptos e inacabáveis adocicaram o líquido marrom, fazendo com que a fumaça que dali provém dance nas cores mais belas do arco-íris. Quem sabe, o amor que tenho por ti, me fez mudar o gosto, deixando-me sem graça, sem textura, sem essência. Pode ser que a alegria que fugitiva escapa, tenha levado o sabor amargo, trazendo gosto de sangue e terra, de ouro e bronze. O vazio do recinto pode ter me deixado sem lar, pode ter roubado as vozes, a melodia, o som, que alimentava o gosto forte e intenso daquele café. Passo a mão no rosto, que arde em chamas. Noto as lágrimas aflorando e despencando por sobre do marrom do café. Do café da vida.

domingo, 31 de outubro de 2010

Do começo ao fim.

Texto inspirado no filme "Do começo ao fim". Recomendadíssimo, por sinal.

E foi aí que nossos olhos se encontraram. E nunca mais se perderam. O céu que transcendia e transmitia neblinas azuladas que se deviam aos sonhos que alados voavam, cresciam, eram. O mundo que aconteceu dentro da imensidão dos seus olhos castanhos é a memória e a prova infundível de que aquilo era verdade. Eu estava coberto por uma satisfacão que nunca havia tido antes. Meu corpo parecia estar flutuando sobre o céu que era transmitido por seus olhos. Mas ao mesmo tempo, eu tinha medo. Medo de que o meu mundo agora fosse fundido como um castelo de cartas, frágil, dócil, simples e complicado como um castelo de cartas. Meu peito pesava esmagando-me os ossos e a carne, e o palpitar do seu coração esfriava-me os lábios etrecortados e abertos pelo medo que se apoderava de meu corpo. Naquele momento parte do meu medo havia ido embora, pois, em seus bracos, eu me sentia quase que completamente seguro. Seguro do que estava acontecendo, seguro do que estava fazendo, seguro de mim. Seguro de nos. Naquele momento eu sabia que era aquilo que eu procurava, aquilo que eu mais queria. Era um simples toque de afeto, um simples abraço de amor, uma simples frase de carinho. Estava ali a pessoa que eu procurava, eu nao tinha mais dúvida. Pelo contrário, eu tinha só certeza. A certeza de que as palavras embaralhadas na minha garganta seca e dolorida, germinariam dando origem às mais belas flores. Flores que cresceriam no seu jardim. Certeza do tempo sem horas, minutos ou segundos. Um tempo nosso, e só nosso. Certeza de que o naufrágio por sobre meu passado de dor se erradicaria, e faria do eterno amor uma jangada rumo à liberdade. Sentia meus músculos contraídos debaixo da minha pele que ardia com o fogo corrosivo de uma paixão tangível. Senti certeza, talvez isso e mais nada. Talvez muito mais. Foi ainda envolvido por aqueles braços que comecei a pensar no futuro, no nosso futuro. Pensei no que seria de nós dois. Mas aí resolvi parar de pensar no depois e só curtir. Curtir o presente e pensar no agora. A partir daquele momento nós éramos uma alma e dois corpos. Uma paixão, dois homens e três palavras. E o medo que eu sentia foi levado pelo oceano de lágrimas que meus olhos jorravam. Lágrimas de emoção, de felicidade. Lágrimas que me deixavam com a mais pura certeza de estar fazendo a coisa certa.



Marina Martins e Martina Davidson

Uma porta indiscreta - Blog da Nina. Super legal, se quiser, acompanhem. Assim como eu.

sábado, 30 de outubro de 2010

Acho que parti.

Sem avisos, parti. Parti levando todas as partes de mim. Sendo tudo e sendo nada. Com medos e aspirações. Com certezas incertas e realidades imaginárias. Parti e levei comigo à mim mesmo. Deixei tudo. Deixei a rotina. Por que fiz de algo uma rotina, já que é rotina, aquilo que queremos que seja. Nada que se repete, tem que virar, necessariamente, uma rotina. Deixei o céu, levando comigo um mundo de vidas, almas, paixões. Fui sozinha, mas muito bem acompanhada. Parti e me perguntei o que seria partir. estive tão perto e tão longe. Quando sem dúvidas o longes nem existe à menos que se tenha um referencial. Que se tenha um perto... Talvez nem se possam entender estas palavras. Talvez esteja perto. Talvez longe. Talvez junto, talvez sem ninguém. Deixo todos sem refêrencias, pois parti sem avisos, como já disse. Mas talvez, tenha avisado. Avisei à mim mesma. Avisei que o partir não existe, que fui tola. Muitos seres humanos, acreditam que são como postes, presos. E que quando andam, deixam o lar e levam as palavras de algo sofrido. Nunca fui presa, por isso não sei se parti. Mas talvez tenha partido. Talvez o lar esteja comigo, taçvez contigo e esteja indo buscar. O que sei, é que aqui, não vou ficar. Se parti ou não, decida você.

Ar.

Acordou pessimista. Nunca foi pessimista, nunca viu o copo meio vazio, nunca pensou que o mundo não tinha mais jeito. Alguém mudou o que ela era, transformando-a em alguém diferente, não ruim, não podre, não errada, apenas diferente. Apenas pessimista, apenas com o pé no chão e o coração acorrentado bem longe das núvens. Acordou pensando que o suspiro agoniante que saía de seus lábios entreabertos podia ser o último. Podia estar num filme de drama, o qual se encerra com um grito da dor lacerante da protagonista, que adormece o corpo sem vida no chão... e permanece ali sozinha, sem que ninguém chore por ela, sem que ninguém a ache. Pensou que nunca escalou o Everest, que nunca ao menos teve a oportunidade de ter vontade. Olhou pro céu e não viu os anjos que antes lhe falavam ao pé do ouvido antes de adormecer, viu a fumaça negra acinzentada, deprimente, da cidade dos sonhos alados, que fogem, deixando pra trás os seus donos aflitos. Fixou o olhar por sobre sua imagem refletida no espelho, e viu uma sombra negra, sem vida, sofrida. Levantou as mãos e a imagem se movia junto à ela, tocou o espelho, fundindo seus dedos com os daquela pessoa magnífica, petrificada. Sonhou ser como ela, estar presa ali dentro, no silêncio imortal de um lugar inexistente, sem amor, sem pessoas, sem matéria. Pensou que talvez nunca mais fosse chorar, libertando assim as lágrimas salgadas de seus olhos castanho claro. Sentiu dor e ingorou-a, caminhando até a vista de sua janela. Olhou o mundo, que continuava. Perguntou-se em como era possível. Em como todas aquelas pessoas se confromavamm em andar em círculos, em estar presas à um sistema, à um mundo ser cor, sem amores e repleto de pesadelos errantes. Sentiu o vento, que despertou sua camisola branca numa dança. Sentiu falta dos dias em que voava, das conversas angelicais, do sorriso e da gargalhada soltos no ar. Abriu os braços. Sentiu na pele o ar. Dormiu pessimista.E depois encontrou-se ali, seu corpo, sem vida. Sorria, e como sorria. Sorria como se tivesse voado.

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Um amor que foi.

Estava parada. Se movia tão rápido. Os sons se fundiam num só e a dor de uma incerteza retumbava nos ouvidos dela. O ambiente nostálgico a separava do mundano, cada vez mais afastada da fronteira entre a alma e o chão. As lágrimas amigas caiam e fluiam como num rio sem rumo dos seus olhos negros, os quais diziam a aflição crescente que seu organismo inteiro sofria. Sentia sede. Uma sede tão forte, tão intensa... sua garganta se manifestava, lutando contra a vontade de ceder ao formigamento e à secura de um rendimento, de um adeus. Nada conseguia ver. Nada além do que um dia já foi, um dia já viu. Abria seus olhos mais e mais, e as lágrimas achavam mais espaço para se acomodarem na pele macia e ácida de sua feição suave mas bruta. Achava que nunca saberia o sentimento de deixar ir, mas soube. Naquele momento, sabia. Sentia no crânio um vazio provocado pela fuga das idéias e sonhos que se mudavam dali tão rápido, como se nunca tivessem sido importantes. Como se nunca houvessem existido. O medo se apagava num sopro profundo do seus lábios violetas e a escolha lhe doía nos braços, nas pernas, na garganta, na carne, no ar. O certo lhe pareceu uma das mais variantes manifestações do errado. Seu coração palpitava numa dança mórbida. Seu coração era o único dono da certeza. Assim, adormeceu. Adormeceu envolvida no regaço de que tomara a mais certa escolha, de deixar ir. De deixar-se ir.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Apaixonada pela liberdade.

Estava olhando a imensidão azul do mar. O vento me bagunçava os cabelos e o cheiro de maresia invadia-me os pulmões. A rua estava vazia, os pombos sujos e esfomeados se moviam na quadra de frente. Estava sofrendo demais pra me incomodar. Sofria demais pra chorar. Fechava os olhos de vez em quando, pra fugir do quadro deprimente que era eu e minha sombra, sozinhas, na praia, na chuva. Meus lábios estavam arroxeados pelo frio e meu rosto ardia por adormecer-se. Meus dedos de tempo em tempo agarravam-se involuntariamente ao chão do concreto. Ela vinha andando. Sentou-se ao meu lado.
- Mas, já? - disse eu.
- Não sei, me diga você. Mas, já?
- Estou com frio. Tudo em mim dói. Só ouço o vazio da solidão e escuto o que não se ouve. Acho que já.
- Então vamos. Dai-me a mão.
- Temo.
- Ficar aqui, ou ir comigo?
- Arrepender-me.
- Não vale à pena viver arrependido... é apenas o passado te destruindo no presente.
- Pedaços de mim caem.
- Podemos pegá-los no caminho. Vamos logo?
- Direto?
- Sim, sem escalas.
- Só nós duas?
- Mas é claro.
- Não.
- Não?
- Acho que amar é o suficiente pra me fazer ficar.
Assim largava a faca da minha mão. Ouvi o baque do metal no concreto e senti alívio. Me arrependi de ter chegado até onde estava. Despedi-me de minha consciência. Agora era eu, e estava apaixonada. Por mim. Pela vida. Pela liberdade.

sábado, 23 de outubro de 2010

Mary and Max.

Ele longe. Ela distante. Ele fugia dos padrões, fugia do real, do concreto. Era irônico, vivia numa selva de concreto. Ela era distante, era estranha, era insatisfeita. Ele não amava a si próprio, era sozinho, não tinha amigos. Ela não gostava de si, tinha apenas a si mesma e não tinha amigos. E por meio de palavras, se encontraram. Não se viram não se tocaram ou sentiram seus cheiros. Apenas sentiam nas palavras escritas, o fogo ardente de uma amizade entre dois estranhos. Deram-se oportunidades, de errar, de ser imperfeitos, de desejar a morte, de sentir na boca o gosto adocicado do chocolate e de sentir no peito as saudades. Ele segurava a palavras e sorria dentro de si mesmo, para si mesmo. Ela olhava a foto dele, derramando lagrimas de uma aflição crescente. Ela saiu de longe, e foi pra perto. Perto dele. Já era tarde. Jazia ele ali, coberto pelo tempo e envolvido nas saudades de alguém que nunca viu. Mas então, ela entendeu. Que mesmo longe, os dois fizeram algo, que nenhum dos dois conseguiu sozinhos. Ela própria, não conseguia ate o momento. Ele a amou. Ela o amou. Amou mais do que amava o próprio chocolate. Amou mais que a si mesma. Amou uma idéia. Amou um amigo.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Parte.

Fui tudo. Eterno. Silêcio. Amor. Saudades. Raiva. Arrependimento. Fui vírgula. Céu. Mar. Carne. Alma. Grito. Cinema. Música. Alegria. Tristeza. Dor. Sofrimento. Fui amiga. Amante. Séria. Boba. Sábia. Medo. Fui coragem. Verdade. Obessesão. Sonho. Realidade. Fui eu. Outro. Teto. Chão. Perfume. Macia. Desconfortável. Olhar. Risada. Fui sentimento. Suspiro. Olá. Lar. Presente. Passado. Cachorro. Gato. Fui infinita. Paixão. Ardor. Bater. Cabelo. Vento. Sol. Fui filosofia. Política. Medicina. Xadrez. Listras. Branco. Preto. Fui arte. Sangue. Soluço. Janela. Quando te amei fui tudo isso. Agora sou só uma parte.

Lágrimas.

Percebi, que por muito tempo, nada mais vi além de lágrimas.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

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Encontrei alguém melhor que o homem dos meu sonhos. Ele é real.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Andando

- Você vai simplesmente continuar andando?
- Acho que sim.
- Meu maior desejo seria descobrir o que se passa por essa sua cabecinha.
- O meu maior desejo seria descobrir para onde estou andando. Mas meu segundo maior desejo seria descobrir por quê estou andando. E o terceiro, seria esquecer de tudo o que descobri. A surpresa é tão gostosa...
- Você poderia parar de andar e começar a me escutar.
- Estou te escutando. Só optei por não te ouvir.
- Retiro o que disse.
- ...
- Não vai me perguntar o que retirei?
- Não.
- Pois eu digo mesmo assim, retirei o que disse sobre meu maio desejo.
- Também retiro. Meu maior desejo é descobrir por que motivo você está andando junto à mim!
- Já chega. Meu maior desejo é descobrir qual o teu problema.
- O meu problema, é que minhas pernas são curtas demais para caminhar por todos os caminhos da vida.
- Eu te carrego quando se cansar.
- Meu problema, é que os medos estão enchendo meu coração e deixando rastros de dor nele...
- Pois eu te dou o meu coração para substituí-lo.
- Meu problema, é que não sei o que sentir.
- ...
- Acabaram suas soluções, não acabaram?
- Minha solução pra isso, é que te amo.
- O meu maior problema, é te amar de volta.
- Problema?
- Sabe por que estou andando?
- Não, mas nem você sabe.
- Na verdade, sempre soube, mas tendo a me esquecer de novo, e de novo...
- Por que, então?
- Estou fugindo de te amar. Te amar é meu problema. Te amar demais é meu problema. Preciso ser feliz, e não me machucar e voltar aos teus braços que logo cedem ao peso do meu corpo e me largam sozinha, dolorida, feriada, machucada.
- Prometo não te magoar de novo.
- Pois eu prometo continuar andando, e não olhar mais pra trás.

domingo, 10 de outubro de 2010

Sem análise.

- Bom dia.
- Bom dia...
- O que foi?
- Por que 'Bom dia'?
- Por que é de manhã. E costumamos dizer isso quando encantramos alguém de manhã.
- Também costumam os outros comer sorvete de chocolate, e nem por isso a gente tá tomando um.
- Ah, você tem sempre que analisar TUDO.
- Sempre é uma palavra muito forte. Utilizemos o vulgo "quase sempre".
- Tá me irritando.
- Também irrita à mim.
- O que?! Não estou fazendo nada, você que é toda diferentezinha, e fica aí analisando tudo o tempo todo...
- Exatamente.
- Exatemente O QUE?!
- Você não está fazendo nada...
- E daí?!
- E daí que se você analisasse as coisas um pouco mais, perceberia que estou louca pra te beijar.
- Está?
- Sim.
- E se eu te beijar, vai parar de analisar as coisas?
- Creio que sim.
- Então vem cá.
- "Cá" aonde? As pessoas costumam se referir à todo lugar do mundo como "cá", quando na verdade existem mundos tão diferentes e...
- Desisto.
- Desiste?
- Não sei como eu te amo tanto.
- Ama?
- Vai analisar isso também?
- Não, amor não se analisa.

Mesmo final?

Acordei pensando em como seria bom estar dormindo. Andei pensando em como daria tudo pra estar deitada. Sonhei pensando em como seria bom poder estar vivendo. Foi quando vi. Que amor e dor, terminam exatamente da mesma forma. Terrível.

Sonhei.

Hoje sonhei. Simplesmente deixei que meu inconsciente viajasse por sobre as mentes alheias e dançasse na sombra do impossível. Fechei os olhos, e por menor que o tempo fosse, sonhar me pareceu o estado espiritual mais eterno. Minhas mãos viajaram nas texturas dos pesadelos e tremeram antes de sossegarem ao som da realidade. Minhas têmporas pesaram levando uma dor aguda às memórias de um passado de ralidades inconcretas. O corpo contraido numa forma que só quem sonha conhece. O mundo perdeu sentido, perdeu o que tinha de real. Hoje sonhei. E de manhã, quando acordei, corri até a janela pra saber se tinha mesmo acordado. Senti na pele as lágrimas que choravam sem que ao menos eu pudesse segurá-las. Hoje sonhei e não queria ter acordado. Amanhã, os sonhos serão minha única realidade.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O passado.

Este texto e vídeo ( http://www.youtube.com/watch?v=1ZwEqthryM0&feature=player_embedded#! ), me trouxe as lágrimas da compreensão e dor de uma vida díficil. Me trouxe as lágrimas de entendimento de algo com o que somos obrigados a conviver. Foi retirado de um vídeo elaborado por um paciente do Pinel, que sofre de esquizofrenia. Neste projeto elaborado por lá, cada paciente pôde contar alguma história, Samy, contou a dele, assim:

"Primeiro dia no hospital; estrevista com as terapeutas. Minha mãe estava me acompanhando. E ele estava lá.
No dormitório; com outros pacientes. E ele estava lá.
No refeitório; duas refeições por dia. E ele estava lá.
Indo num passeio. E ele estava lá.
Terapia ocupacional, desenho, pintura, escultura, colagem, bate papo. E ele estava lá.
Artesanato, bijouteria, fabricação de velas, costurar tapetes, massa, biscuit. E ele estava lá.
Vendo televisão; sessões de vídeo. E ele estava lá.
Fazendo o jornal. E ele estava lá.
Fazendo uma palestra. E ele estava lá.
Continuo a viver a minha vida. Ele, o passado, continua na minha frente." - Samy, aluno da oficina de pacientes do Instituto Philippe Pinel no Pontão de Cultura da ECO/UFRJ.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Maio, 2010

Que saudades daquela que um dia sorriu pra mim, encarando-me refletida no espelho. Hoje só consigo ver as lágrimas que me cobrem os olhos, e sinto umas saudades... Daquele sorriso. Daquele outro alguém.

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"Nota-se o quão insignificante tu eres, ao enxergar a imensidão do mundo todo; nota-se sua grande importância, ao notar, que sem ti, o todo não é nada."

Engrenagens.

Vi a vida como uma grande maquinaria, com engrenagens enferrujadas, e com um som ensurdecedor. Cada engrenagem movendo-se em sintonia, como se fossem passos. A primeira, ainda virgem, sem muito contato com o mundo, com tantas idéias, tantas aspirações... Aquela imparável, infreável, representando um limite entre o racional e o irracional, ou mágico e o mundano. E essa novidade, movendo uma segunda, um segundo passo. Este por sua vez começa a se enferrujar com a voz da experiência, aprendendo a cair e curar as feridas, ainda sonhando com mudanças absurdas e ao mesmo tempo possíveis, olhando e fazendo, vivendo e aprendendo mais e mais. Procurando com sede conhecimentos para enrriquecer-se, procurando a liberdade almejada. Por sua vez, enferrujada, mais lenta e porém livre, a terceira engrenagem se move, produzindo sons de uma manhã cansada, intensa, verdadeira. Uma coisa que já ultrapassou os limites do impossível e já sentiu no corpo o gosto de um amor e a dor de um desprezo, que já olhou e teve de olhar, que traumatiza as pequenas partículas com encantos de um passado tão vivido, tão arrependido talvez, tão mal aproveitado. Por fim, enferrujada, a última engrenagem, que se movendo quase que parada, dança uma dança final. Sorri e canta as verdades e besterias de uma vida mortal e finita, engolindo e assimilando esperiências de algo que parece que aconteceu ontem. Sendo obrigada a ver um verde e esperar que seja eterno, e adormecendo num movimento. Para. A máquina desiste, cansa, dorme. E suas engrenagens ainda vivas. Simplesmente, por que nunca estiveram sozinhas.

sábado, 2 de outubro de 2010

Todo mundo já chorou.

Todo mundo já chorou. Sentiu a alma caindo na forma de lágrimas, saindo e tocando a pele do rosto. Sentiu o mundo desabar nos próprios ombros. Sentiu o frio chegar ao corpo e abraçou a si mesmo, na esperança de fugir do calafrio eterno de uma mágoa incurável. Sentiu medo, transcendente, fenomenal, desumano. Sentiu a falta de ar nos pulmões latejantes de dor. Sentiu os joelhos dobrarem, lentamente, quase que numa dança, até encontrarem o duro do chão e acordadrem de um sonho no qual voam! Sentiu a confusão se apoderando de cada pequena célula do corpo. Sentiu que era inútil, intangível. Sentiu tanto e ao mesmo tempo, sentiu que nada daquilo foi suficiente. Sentiu a impotência por sobre os céus da consciência e por isso, sentiu raiva. Sentiu raiva até que sua garganta arda de dor, por gritar um grito agoniante, silencioso, intenso. Sentiu aflorar no peito um calor que dói. Sentiu tudo isso, e só apareceram as lágrimas? Todo mundo já chorou. Mas será o choro suficiente? Será algo suficiente? Quando no mundo, existe o ator, que chora quando quer e onde quer. Meso sem sentir nada. O que será chorar, então?

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

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Recomendo esse filme. "Em busca da Terra do Nunca" é a história de fantasia e paixão que todos nós precisamos ver, e sim, é bem triste, mas vale à pena. Cada segundo vale à pena.

"Peter: É só que achei que ela sempre estaria aqui.
James: Assim como eu.
Mas, na verdade, ela está, porque ela está em cada página de sua imaginação.
Estará sempre lá. Sempre.
Peter: Mas por que ela teve que morrer?
James: Eu não sei, Peter. Quando eu penso em sua mãe, sempre vou me lembrar como ela parecia feliz, ali sentada na sala assistindo a uma peça sobre sua família, sobre seus filhos, que nunca cresceram. Ela foi para “A Terra do Nunca”. E você pode visitá-la sempre que você quiser, se você quiser.
Peter: Como?
James: Crendo, Peter. Basta acreditar."

Fotografia.

Em meio à registros fotográficos, ele começou a chorar. Ele segurou nas mãos trêmulas aquela foto em preto e branco e acabou por molhá-la com a água doce das ácidas lágrimas. De tempo em tempo, quando achava que seu coração estava morrendo, e morrendo de verdade, levava a fotografia ao peito. Trazia a imagem pra perto de si, tentando assimilá-la, trazê-la à vida. Olhava seus pés sem firmeza pregados ao chão e seus mocassins azul marinho surrados, que o faziam lembrar tanto da época em que voava e estes nunca tocavam o solo. Sentiu o frio acalmando-lhe as células do corpo, uma por uma. Assim, o arrepio lhe veio, deixando a dor de uma saudades sem fim. Quem o visse, diria que estava sofrendo por amor. Talvez estivesse, mas nada mais importava. Levou uma mão aos cabelos desgrenhados e negros enquanto com a outra, segurava um pedaço de papel desenhado. Segurava com tanta força que parecia que assim que o soltásse, este voaria até mundos nunca explorados. Estava tão só. Estava com ele mesmo e memórias de um passado tão eternamente acabável. Sua respiração agitada sentia o cheiro de rosas murchas e seus lábios estavam parcialmente separados e tentados a gritar. Gritar e nunca mais parar. "Te amo" - sussurrou num tom nunca ouvido por seres humanos, e na esperança de que alguém ainda pudesse ouví-lo. Levou um líquido parecido ao néctar até seus lábios e sentiu na garganta o formigamento. O formigamento de uma morte sem dor. Sem ela, a vida não valia à pena. Sem amar, não valia à pena. Sem certezas de algo tão incerto, não valia mais. Seus joelhos cederam ao peso de seu corpo, e adormecido em seus encantos, sua mão abriu e a fotografia voou. Voou até seu peito. Na tentativa de reverter a morte. Trazer de novo a vida.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pensei, e como pensei.

Pensei.
E de que me vale crer num hoje inexistente
e na impossibilidade do amanhã?
Pra que viver sofrendo e fazendo sofrer?

Dormir no regaço de nuances e essências
de palavras incosequentes, inconcebíveis.

Viver amando ou amar vivendo?
Quando à fundo vivemos rotulando aquilo
que um dia já foi livre, já foi único, já foi autêntico.

Olhar para o verde da esperança e enxergar
as neblinas negras do incerto.
Parece-me tão complicado.

Pensei.
E de que vale pensar?
De que me vale pensar quando minhas idéias não são mais
que aspirações e teus beijos promessas incumpríveis?

A vida que nos reserva tanto e tão pouco.
A Lua que nos olha com grandeza e invejamo-na.
Como gostaria de ser a Lua,
brilhando ali, serena, sozinha.

Casamento

Ela estava esplêndida. Suas vestes brancas e compridas que roçavam sua pele cor de neve faziam com que o quadro parecesse ainda mais fantástico. Ele olhava pra ela quase que se apaixonando de novo, procurando com os olhos brilhantes de emoção alguma imperfeição no corpo dela que pudesse apontar que aquilo estava acontecendo de verdade, que nada daquilo era um sonho. O padre falava, mas os dois pombinhos estavam muito ocupados viajando um no olho do outro para percebê-lo. Na verdade, para perceber a todos. Suas mãos unidas e seus corpos separados lhes indicava a necessidade de estar juntos, a necessidade de estar ali, naquele momento, a idéia de que tudo o que mais precisavam na vida, era do sorriso do outro, do toque de suas mãos, da companhia desse alguém. Foi então que ele parou, saiu de transe. Olhou para o padre como se este tivesse acabado de pronunciar uma blasfêmia. Homem brasileiro, direito, romântico incurável, simplesmente disse ao padre para parar a cerimônia. Ela se assustou, caiu em lágrimas, não entendeu. Ela tinha tanta certeza de que ele também queria aquilo. Foi quando ele estendeu as mãos e envolveu o corpo dela, frágil, deu-lhe um beijo doce. Ela ficou ainda mais confusa, ainda mais perdida. Ele a levantou com muita facilidade, como se ela fosse uma pluma. Ela entendeu. Viu que o problema não eram eles, era o que fora dito. O padre havia dito o que eles não suportavam, disse que estariam juntos até que a morte os separasse, e não podia ser assim, não para eles. Eles estariam juntos para sempre, não só em vida. Quando saíram da Igreja naquele dia, ele não disse: Enfim sós, como todos os maridos fazem. Ele a segurou no colo como sempre fazia e disse: Enfim juntos.

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Doeu. Pensei em como tudo havia começado e doeu mais ainda. Doeu como se facas afiadas entrassem na minha carne macia e arrancassem de mim, aquilo que já nem sei mais se está ali. Olhei pro mundo e não gostei do que vi. Não gostei da futilidade crescente nos corpos e mentes de jóvens, não gostei de ver o verde virando concreto, não gostei de sentir no peito o pesar de um mundo onde o incompreendido não tem lugar. Impressionante como tem vezes que se vive por outro. É como se você fosse apenas uma caixa de ossos chacoalhando, e sua alma, naturalmente voasse por sobre o corpo de um outro algúem. Alguém especial. Isso também dói. E então, o que será a vida? Um ergástulo de dores? Pra mim, chega de sofrer. Deito a cabeça na núvem do tempo, e ali adormeço. Esperando sempre. Esperando por respostas.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sentir.

Sentir sua voz quente por sobre meu pescoço de células adormecidas. Sentir seu som, sua música, que canta próxima ao meu ouvido. Sentir o balanço do teu corpo, que envolvendo o meu, me transporta para uma dimensão só nossa. Respirar teu cheiro, sentir teu perfume doce e sentir um formigamento no peito. Secar minhas lágrimas doloridas no teu ombro acolhedor e sentir-me protegida num refúgio que é teu abraço. Compartilhar minhas alegrias com palavras e receber como resposta um beijo, que as apaga, mas mesmo assim, consegue multiplicá-las! Desfazer os nós da minha garganta cansada e sentir teu cabelo negro entrelaçado nas minha mãos. As borboletas que voam no meu estômago quando sei que vou te ver... É como se eu mesma fosse um jardim. Sentir o que sinto quando estou dormitando na sua companhia, sonhando no regaço das promessas por ti feitas... Sentir que sou eu, e não preciso de mais nada. Sentir o amor tomando posse do que me restava vazio e gritar te nome sabendo que mesmo sem ouví-lo seu coração me ouve! Te amo, e me apaixono mais a cada dia. Pelo teu sorriso, pelo teu abraço, pela tua segurança, por você. E mais nada.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Te amo.

Eu percebi. Finalmente minha mente obscura descobriu a sagrada fórmula pra uma luz eterna e inacabável. Uma luz que ilumina cada cantinho do cérebro humano e que apaga qualquer memória desagrádavel, mesmo que seja por uns instantes. E nossa, não sei como esta se chama, e nem preciso saber. Mas sentir segurança enquanto estou explorando as profundezas da alma é um sentimento tão... intenso. É como se de certa forma, eu fosse uma borboleta, voando livre, vivendo longe. O néctar que me chega aos lábios de maneira divina e o sol que me cobre as asas aquecendo-as. Sentir os músculos se movendo de maneira sincrônica, como se fosse engrenagens, uma movendo a outra. Sentir alegria. A alegria crescente, transcendente, fenomenal. Eu percebi. Finalmente minha mente obscura descobriu a sagrada fórmula do amar.

Livre.

2, 6, 7, 8, 9, 3, 4, 5. 2678-9345. Ela discava os números freneticamente. Suas mãos suadas que tremiam ao vê-los impressos na tela do seu celular. E apagava um por um. Como doía nela, que aqueles números fossem a única lembrança que tinha dele. Como doía nela, saber que a historia chegara a um fim, assim como os números que apareciam e desapareciam tão facilmente. Ela piscou os olhos e ele não estava mais ali. Como doíam seus olhos vermelho ardente, que choravam mágoas de um amor passado, um amor que nem ao menos existiu. Como doía ver as memórias voltando, e desmascarando mentiras, ocultando verdades, formando tantos sonhos, destruindo tantas expectativas. Como doía saber que o mais eterno, tivera fim. O pra sempre, sempre acaba. Como doía seu peito, que pesava por tantas tristezas acumuladas. Não se movia, só olhava pra aquela tela. Era só ligar. Fechou os olhos, largou o celular. Como doeu em seus ouvidos o baque do aparelho no chão de concreto. Abraçou seu próprio corpo, refugiando-se na carne quente de seus braços, envolvida por remorso. Libertou seus lábios, tão selados por um grito de dor oculto. Gritou, e ainda assim, estava tão silenciosa. Abaixou-se e ao agarrar o aparelho, soltou um sorriso, e como doía sorrir. Jogou-o para longe. E também doeu. Basta. Basta de ler horas e horas palavras que eram só letras e mais nada! Basta de sofrer. Basta de chorar. Basta de morrer. O sol secava suas lágrimas, que agora corriam por sobre seu rosto macio. Ela se levantou, recebendo forças que não tinha. E caminhou. Afogou no mar as mágoas. E quando correu, nossa, nada mais doía. Estava livre.

Recomeço.

E foi assim. Apaguei meus pensamentos, sem remorso, sem medo de recomeçar. Admito, foi difícil. Mas acho que foi mais que suficiente. Liberdade.