sábado, 13 de novembro de 2010

Português.

Ele caminhou até ela cheio de seus anaforismos e anacolutos. Carregava a língua no peito e os verbos cobriam-lhe o olhar. Seu andar firme, completo, como se fosse ele mesmo um grande e rico dicionário, com tantas, mas tantas palavras... E ela sentada esperou. Não respirou, não piscou, não se moveu. Batendo nos ombros dela, de uma maneira quase suave, ele disse:
- Estive procurando por você.
- Também estive. - respondeu ela.
- Ora, mas eu mal a conheço! Só vim até você devido ao livro de Língua Portuguesa que esquecestes sobre minha mesa.
- Bom, viestes... E aqui estamos: eu, você e livro, como se fossemos um só. Eu em você, você em mim, e nós no livro. Se você pensar, somos uma história, acabamos de dar vida à um livro.
- Começo a desconfiar se foi uma boa idéia eu ter vindo até você.
- Não sei se foi boa, mas foi. Tanto é que você está aqui.
- Bem apontado.
- ...
- Preciso ir. Amanhã temos teste de português, e nem todos nós temos a sorte que você tem de nascer com dom para as palavras.
- Se quiser te ajudo.
- Não quero incomodar.
- Já sei, por que não traz sua boca pra perto da minha e assim te ensino as palavras?

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