sábado, 30 de outubro de 2010
Ar.
Acordou pessimista. Nunca foi pessimista, nunca viu o copo meio vazio, nunca pensou que o mundo não tinha mais jeito. Alguém mudou o que ela era, transformando-a em alguém diferente, não ruim, não podre, não errada, apenas diferente. Apenas pessimista, apenas com o pé no chão e o coração acorrentado bem longe das núvens. Acordou pensando que o suspiro agoniante que saía de seus lábios entreabertos podia ser o último. Podia estar num filme de drama, o qual se encerra com um grito da dor lacerante da protagonista, que adormece o corpo sem vida no chão... e permanece ali sozinha, sem que ninguém chore por ela, sem que ninguém a ache. Pensou que nunca escalou o Everest, que nunca ao menos teve a oportunidade de ter vontade. Olhou pro céu e não viu os anjos que antes lhe falavam ao pé do ouvido antes de adormecer, viu a fumaça negra acinzentada, deprimente, da cidade dos sonhos alados, que fogem, deixando pra trás os seus donos aflitos. Fixou o olhar por sobre sua imagem refletida no espelho, e viu uma sombra negra, sem vida, sofrida. Levantou as mãos e a imagem se movia junto à ela, tocou o espelho, fundindo seus dedos com os daquela pessoa magnífica, petrificada. Sonhou ser como ela, estar presa ali dentro, no silêncio imortal de um lugar inexistente, sem amor, sem pessoas, sem matéria. Pensou que talvez nunca mais fosse chorar, libertando assim as lágrimas salgadas de seus olhos castanho claro. Sentiu dor e ingorou-a, caminhando até a vista de sua janela. Olhou o mundo, que continuava. Perguntou-se em como era possível. Em como todas aquelas pessoas se confromavamm em andar em círculos, em estar presas à um sistema, à um mundo ser cor, sem amores e repleto de pesadelos errantes. Sentiu o vento, que despertou sua camisola branca numa dança. Sentiu falta dos dias em que voava, das conversas angelicais, do sorriso e da gargalhada soltos no ar. Abriu os braços. Sentiu na pele o ar. Dormiu pessimista.E depois encontrou-se ali, seu corpo, sem vida. Sorria, e como sorria. Sorria como se tivesse voado.
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