terça-feira, 5 de outubro de 2010

Engrenagens.

Vi a vida como uma grande maquinaria, com engrenagens enferrujadas, e com um som ensurdecedor. Cada engrenagem movendo-se em sintonia, como se fossem passos. A primeira, ainda virgem, sem muito contato com o mundo, com tantas idéias, tantas aspirações... Aquela imparável, infreável, representando um limite entre o racional e o irracional, ou mágico e o mundano. E essa novidade, movendo uma segunda, um segundo passo. Este por sua vez começa a se enferrujar com a voz da experiência, aprendendo a cair e curar as feridas, ainda sonhando com mudanças absurdas e ao mesmo tempo possíveis, olhando e fazendo, vivendo e aprendendo mais e mais. Procurando com sede conhecimentos para enrriquecer-se, procurando a liberdade almejada. Por sua vez, enferrujada, mais lenta e porém livre, a terceira engrenagem se move, produzindo sons de uma manhã cansada, intensa, verdadeira. Uma coisa que já ultrapassou os limites do impossível e já sentiu no corpo o gosto de um amor e a dor de um desprezo, que já olhou e teve de olhar, que traumatiza as pequenas partículas com encantos de um passado tão vivido, tão arrependido talvez, tão mal aproveitado. Por fim, enferrujada, a última engrenagem, que se movendo quase que parada, dança uma dança final. Sorri e canta as verdades e besterias de uma vida mortal e finita, engolindo e assimilando esperiências de algo que parece que aconteceu ontem. Sendo obrigada a ver um verde e esperar que seja eterno, e adormecendo num movimento. Para. A máquina desiste, cansa, dorme. E suas engrenagens ainda vivas. Simplesmente, por que nunca estiveram sozinhas.

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