quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Um amor que foi.

Estava parada. Se movia tão rápido. Os sons se fundiam num só e a dor de uma incerteza retumbava nos ouvidos dela. O ambiente nostálgico a separava do mundano, cada vez mais afastada da fronteira entre a alma e o chão. As lágrimas amigas caiam e fluiam como num rio sem rumo dos seus olhos negros, os quais diziam a aflição crescente que seu organismo inteiro sofria. Sentia sede. Uma sede tão forte, tão intensa... sua garganta se manifestava, lutando contra a vontade de ceder ao formigamento e à secura de um rendimento, de um adeus. Nada conseguia ver. Nada além do que um dia já foi, um dia já viu. Abria seus olhos mais e mais, e as lágrimas achavam mais espaço para se acomodarem na pele macia e ácida de sua feição suave mas bruta. Achava que nunca saberia o sentimento de deixar ir, mas soube. Naquele momento, sabia. Sentia no crânio um vazio provocado pela fuga das idéias e sonhos que se mudavam dali tão rápido, como se nunca tivessem sido importantes. Como se nunca houvessem existido. O medo se apagava num sopro profundo do seus lábios violetas e a escolha lhe doía nos braços, nas pernas, na garganta, na carne, no ar. O certo lhe pareceu uma das mais variantes manifestações do errado. Seu coração palpitava numa dança mórbida. Seu coração era o único dono da certeza. Assim, adormeceu. Adormeceu envolvida no regaço de que tomara a mais certa escolha, de deixar ir. De deixar-se ir.

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