quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pensei, e como pensei.

Pensei.
E de que me vale crer num hoje inexistente
e na impossibilidade do amanhã?
Pra que viver sofrendo e fazendo sofrer?

Dormir no regaço de nuances e essências
de palavras incosequentes, inconcebíveis.

Viver amando ou amar vivendo?
Quando à fundo vivemos rotulando aquilo
que um dia já foi livre, já foi único, já foi autêntico.

Olhar para o verde da esperança e enxergar
as neblinas negras do incerto.
Parece-me tão complicado.

Pensei.
E de que vale pensar?
De que me vale pensar quando minhas idéias não são mais
que aspirações e teus beijos promessas incumpríveis?

A vida que nos reserva tanto e tão pouco.
A Lua que nos olha com grandeza e invejamo-na.
Como gostaria de ser a Lua,
brilhando ali, serena, sozinha.

Casamento

Ela estava esplêndida. Suas vestes brancas e compridas que roçavam sua pele cor de neve faziam com que o quadro parecesse ainda mais fantástico. Ele olhava pra ela quase que se apaixonando de novo, procurando com os olhos brilhantes de emoção alguma imperfeição no corpo dela que pudesse apontar que aquilo estava acontecendo de verdade, que nada daquilo era um sonho. O padre falava, mas os dois pombinhos estavam muito ocupados viajando um no olho do outro para percebê-lo. Na verdade, para perceber a todos. Suas mãos unidas e seus corpos separados lhes indicava a necessidade de estar juntos, a necessidade de estar ali, naquele momento, a idéia de que tudo o que mais precisavam na vida, era do sorriso do outro, do toque de suas mãos, da companhia desse alguém. Foi então que ele parou, saiu de transe. Olhou para o padre como se este tivesse acabado de pronunciar uma blasfêmia. Homem brasileiro, direito, romântico incurável, simplesmente disse ao padre para parar a cerimônia. Ela se assustou, caiu em lágrimas, não entendeu. Ela tinha tanta certeza de que ele também queria aquilo. Foi quando ele estendeu as mãos e envolveu o corpo dela, frágil, deu-lhe um beijo doce. Ela ficou ainda mais confusa, ainda mais perdida. Ele a levantou com muita facilidade, como se ela fosse uma pluma. Ela entendeu. Viu que o problema não eram eles, era o que fora dito. O padre havia dito o que eles não suportavam, disse que estariam juntos até que a morte os separasse, e não podia ser assim, não para eles. Eles estariam juntos para sempre, não só em vida. Quando saíram da Igreja naquele dia, ele não disse: Enfim sós, como todos os maridos fazem. Ele a segurou no colo como sempre fazia e disse: Enfim juntos.

-

Doeu. Pensei em como tudo havia começado e doeu mais ainda. Doeu como se facas afiadas entrassem na minha carne macia e arrancassem de mim, aquilo que já nem sei mais se está ali. Olhei pro mundo e não gostei do que vi. Não gostei da futilidade crescente nos corpos e mentes de jóvens, não gostei de ver o verde virando concreto, não gostei de sentir no peito o pesar de um mundo onde o incompreendido não tem lugar. Impressionante como tem vezes que se vive por outro. É como se você fosse apenas uma caixa de ossos chacoalhando, e sua alma, naturalmente voasse por sobre o corpo de um outro algúem. Alguém especial. Isso também dói. E então, o que será a vida? Um ergástulo de dores? Pra mim, chega de sofrer. Deito a cabeça na núvem do tempo, e ali adormeço. Esperando sempre. Esperando por respostas.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Sentir.

Sentir sua voz quente por sobre meu pescoço de células adormecidas. Sentir seu som, sua música, que canta próxima ao meu ouvido. Sentir o balanço do teu corpo, que envolvendo o meu, me transporta para uma dimensão só nossa. Respirar teu cheiro, sentir teu perfume doce e sentir um formigamento no peito. Secar minhas lágrimas doloridas no teu ombro acolhedor e sentir-me protegida num refúgio que é teu abraço. Compartilhar minhas alegrias com palavras e receber como resposta um beijo, que as apaga, mas mesmo assim, consegue multiplicá-las! Desfazer os nós da minha garganta cansada e sentir teu cabelo negro entrelaçado nas minha mãos. As borboletas que voam no meu estômago quando sei que vou te ver... É como se eu mesma fosse um jardim. Sentir o que sinto quando estou dormitando na sua companhia, sonhando no regaço das promessas por ti feitas... Sentir que sou eu, e não preciso de mais nada. Sentir o amor tomando posse do que me restava vazio e gritar te nome sabendo que mesmo sem ouví-lo seu coração me ouve! Te amo, e me apaixono mais a cada dia. Pelo teu sorriso, pelo teu abraço, pela tua segurança, por você. E mais nada.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Te amo.

Eu percebi. Finalmente minha mente obscura descobriu a sagrada fórmula pra uma luz eterna e inacabável. Uma luz que ilumina cada cantinho do cérebro humano e que apaga qualquer memória desagrádavel, mesmo que seja por uns instantes. E nossa, não sei como esta se chama, e nem preciso saber. Mas sentir segurança enquanto estou explorando as profundezas da alma é um sentimento tão... intenso. É como se de certa forma, eu fosse uma borboleta, voando livre, vivendo longe. O néctar que me chega aos lábios de maneira divina e o sol que me cobre as asas aquecendo-as. Sentir os músculos se movendo de maneira sincrônica, como se fosse engrenagens, uma movendo a outra. Sentir alegria. A alegria crescente, transcendente, fenomenal. Eu percebi. Finalmente minha mente obscura descobriu a sagrada fórmula do amar.

Livre.

2, 6, 7, 8, 9, 3, 4, 5. 2678-9345. Ela discava os números freneticamente. Suas mãos suadas que tremiam ao vê-los impressos na tela do seu celular. E apagava um por um. Como doía nela, que aqueles números fossem a única lembrança que tinha dele. Como doía nela, saber que a historia chegara a um fim, assim como os números que apareciam e desapareciam tão facilmente. Ela piscou os olhos e ele não estava mais ali. Como doíam seus olhos vermelho ardente, que choravam mágoas de um amor passado, um amor que nem ao menos existiu. Como doía ver as memórias voltando, e desmascarando mentiras, ocultando verdades, formando tantos sonhos, destruindo tantas expectativas. Como doía saber que o mais eterno, tivera fim. O pra sempre, sempre acaba. Como doía seu peito, que pesava por tantas tristezas acumuladas. Não se movia, só olhava pra aquela tela. Era só ligar. Fechou os olhos, largou o celular. Como doeu em seus ouvidos o baque do aparelho no chão de concreto. Abraçou seu próprio corpo, refugiando-se na carne quente de seus braços, envolvida por remorso. Libertou seus lábios, tão selados por um grito de dor oculto. Gritou, e ainda assim, estava tão silenciosa. Abaixou-se e ao agarrar o aparelho, soltou um sorriso, e como doía sorrir. Jogou-o para longe. E também doeu. Basta. Basta de ler horas e horas palavras que eram só letras e mais nada! Basta de sofrer. Basta de chorar. Basta de morrer. O sol secava suas lágrimas, que agora corriam por sobre seu rosto macio. Ela se levantou, recebendo forças que não tinha. E caminhou. Afogou no mar as mágoas. E quando correu, nossa, nada mais doía. Estava livre.

Recomeço.

E foi assim. Apaguei meus pensamentos, sem remorso, sem medo de recomeçar. Admito, foi difícil. Mas acho que foi mais que suficiente. Liberdade.