Texto inspirado no filme "Do começo ao fim". Recomendadíssimo, por sinal.
E foi aí que nossos olhos se encontraram. E nunca mais se perderam. O céu que transcendia e transmitia neblinas azuladas que se deviam aos sonhos que alados voavam, cresciam, eram. O mundo que aconteceu dentro da imensidão dos seus olhos castanhos é a memória e a prova infundível de que aquilo era verdade. Eu estava coberto por uma satisfacão que nunca havia tido antes. Meu corpo parecia estar flutuando sobre o céu que era transmitido por seus olhos. Mas ao mesmo tempo, eu tinha medo. Medo de que o meu mundo agora fosse fundido como um castelo de cartas, frágil, dócil, simples e complicado como um castelo de cartas. Meu peito pesava esmagando-me os ossos e a carne, e o palpitar do seu coração esfriava-me os lábios etrecortados e abertos pelo medo que se apoderava de meu corpo. Naquele momento parte do meu medo havia ido embora, pois, em seus bracos, eu me sentia quase que completamente seguro. Seguro do que estava acontecendo, seguro do que estava fazendo, seguro de mim. Seguro de nos. Naquele momento eu sabia que era aquilo que eu procurava, aquilo que eu mais queria. Era um simples toque de afeto, um simples abraço de amor, uma simples frase de carinho. Estava ali a pessoa que eu procurava, eu nao tinha mais dúvida. Pelo contrário, eu tinha só certeza. A certeza de que as palavras embaralhadas na minha garganta seca e dolorida, germinariam dando origem às mais belas flores. Flores que cresceriam no seu jardim. Certeza do tempo sem horas, minutos ou segundos. Um tempo nosso, e só nosso. Certeza de que o naufrágio por sobre meu passado de dor se erradicaria, e faria do eterno amor uma jangada rumo à liberdade. Sentia meus músculos contraídos debaixo da minha pele que ardia com o fogo corrosivo de uma paixão tangível. Senti certeza, talvez isso e mais nada. Talvez muito mais. Foi ainda envolvido por aqueles braços que comecei a pensar no futuro, no nosso futuro. Pensei no que seria de nós dois. Mas aí resolvi parar de pensar no depois e só curtir. Curtir o presente e pensar no agora. A partir daquele momento nós éramos uma alma e dois corpos. Uma paixão, dois homens e três palavras. E o medo que eu sentia foi levado pelo oceano de lágrimas que meus olhos jorravam. Lágrimas de emoção, de felicidade. Lágrimas que me deixavam com a mais pura certeza de estar fazendo a coisa certa.
Marina Martins e Martina Davidson
Uma porta indiscreta - Blog da Nina. Super legal, se quiser, acompanhem. Assim como eu.
domingo, 31 de outubro de 2010
sábado, 30 de outubro de 2010
Acho que parti.
Sem avisos, parti. Parti levando todas as partes de mim. Sendo tudo e sendo nada. Com medos e aspirações. Com certezas incertas e realidades imaginárias. Parti e levei comigo à mim mesmo. Deixei tudo. Deixei a rotina. Por que fiz de algo uma rotina, já que é rotina, aquilo que queremos que seja. Nada que se repete, tem que virar, necessariamente, uma rotina. Deixei o céu, levando comigo um mundo de vidas, almas, paixões. Fui sozinha, mas muito bem acompanhada. Parti e me perguntei o que seria partir. estive tão perto e tão longe. Quando sem dúvidas o longes nem existe à menos que se tenha um referencial. Que se tenha um perto... Talvez nem se possam entender estas palavras. Talvez esteja perto. Talvez longe. Talvez junto, talvez sem ninguém. Deixo todos sem refêrencias, pois parti sem avisos, como já disse. Mas talvez, tenha avisado. Avisei à mim mesma. Avisei que o partir não existe, que fui tola. Muitos seres humanos, acreditam que são como postes, presos. E que quando andam, deixam o lar e levam as palavras de algo sofrido. Nunca fui presa, por isso não sei se parti. Mas talvez tenha partido. Talvez o lar esteja comigo, taçvez contigo e esteja indo buscar. O que sei, é que aqui, não vou ficar. Se parti ou não, decida você.
Ar.
Acordou pessimista. Nunca foi pessimista, nunca viu o copo meio vazio, nunca pensou que o mundo não tinha mais jeito. Alguém mudou o que ela era, transformando-a em alguém diferente, não ruim, não podre, não errada, apenas diferente. Apenas pessimista, apenas com o pé no chão e o coração acorrentado bem longe das núvens. Acordou pensando que o suspiro agoniante que saía de seus lábios entreabertos podia ser o último. Podia estar num filme de drama, o qual se encerra com um grito da dor lacerante da protagonista, que adormece o corpo sem vida no chão... e permanece ali sozinha, sem que ninguém chore por ela, sem que ninguém a ache. Pensou que nunca escalou o Everest, que nunca ao menos teve a oportunidade de ter vontade. Olhou pro céu e não viu os anjos que antes lhe falavam ao pé do ouvido antes de adormecer, viu a fumaça negra acinzentada, deprimente, da cidade dos sonhos alados, que fogem, deixando pra trás os seus donos aflitos. Fixou o olhar por sobre sua imagem refletida no espelho, e viu uma sombra negra, sem vida, sofrida. Levantou as mãos e a imagem se movia junto à ela, tocou o espelho, fundindo seus dedos com os daquela pessoa magnífica, petrificada. Sonhou ser como ela, estar presa ali dentro, no silêncio imortal de um lugar inexistente, sem amor, sem pessoas, sem matéria. Pensou que talvez nunca mais fosse chorar, libertando assim as lágrimas salgadas de seus olhos castanho claro. Sentiu dor e ingorou-a, caminhando até a vista de sua janela. Olhou o mundo, que continuava. Perguntou-se em como era possível. Em como todas aquelas pessoas se confromavamm em andar em círculos, em estar presas à um sistema, à um mundo ser cor, sem amores e repleto de pesadelos errantes. Sentiu o vento, que despertou sua camisola branca numa dança. Sentiu falta dos dias em que voava, das conversas angelicais, do sorriso e da gargalhada soltos no ar. Abriu os braços. Sentiu na pele o ar. Dormiu pessimista.E depois encontrou-se ali, seu corpo, sem vida. Sorria, e como sorria. Sorria como se tivesse voado.
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
Um amor que foi.
Estava parada. Se movia tão rápido. Os sons se fundiam num só e a dor de uma incerteza retumbava nos ouvidos dela. O ambiente nostálgico a separava do mundano, cada vez mais afastada da fronteira entre a alma e o chão. As lágrimas amigas caiam e fluiam como num rio sem rumo dos seus olhos negros, os quais diziam a aflição crescente que seu organismo inteiro sofria. Sentia sede. Uma sede tão forte, tão intensa... sua garganta se manifestava, lutando contra a vontade de ceder ao formigamento e à secura de um rendimento, de um adeus. Nada conseguia ver. Nada além do que um dia já foi, um dia já viu. Abria seus olhos mais e mais, e as lágrimas achavam mais espaço para se acomodarem na pele macia e ácida de sua feição suave mas bruta. Achava que nunca saberia o sentimento de deixar ir, mas soube. Naquele momento, sabia. Sentia no crânio um vazio provocado pela fuga das idéias e sonhos que se mudavam dali tão rápido, como se nunca tivessem sido importantes. Como se nunca houvessem existido. O medo se apagava num sopro profundo do seus lábios violetas e a escolha lhe doía nos braços, nas pernas, na garganta, na carne, no ar. O certo lhe pareceu uma das mais variantes manifestações do errado. Seu coração palpitava numa dança mórbida. Seu coração era o único dono da certeza. Assim, adormeceu. Adormeceu envolvida no regaço de que tomara a mais certa escolha, de deixar ir. De deixar-se ir.
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Apaixonada pela liberdade.
Estava olhando a imensidão azul do mar. O vento me bagunçava os cabelos e o cheiro de maresia invadia-me os pulmões. A rua estava vazia, os pombos sujos e esfomeados se moviam na quadra de frente. Estava sofrendo demais pra me incomodar. Sofria demais pra chorar. Fechava os olhos de vez em quando, pra fugir do quadro deprimente que era eu e minha sombra, sozinhas, na praia, na chuva. Meus lábios estavam arroxeados pelo frio e meu rosto ardia por adormecer-se. Meus dedos de tempo em tempo agarravam-se involuntariamente ao chão do concreto. Ela vinha andando. Sentou-se ao meu lado.
- Mas, já? - disse eu.
- Não sei, me diga você. Mas, já?
- Estou com frio. Tudo em mim dói. Só ouço o vazio da solidão e escuto o que não se ouve. Acho que já.
- Então vamos. Dai-me a mão.
- Temo.
- Ficar aqui, ou ir comigo?
- Arrepender-me.
- Não vale à pena viver arrependido... é apenas o passado te destruindo no presente.
- Pedaços de mim caem.
- Podemos pegá-los no caminho. Vamos logo?
- Direto?
- Sim, sem escalas.
- Só nós duas?
- Mas é claro.
- Não.
- Não?
- Acho que amar é o suficiente pra me fazer ficar.
Assim largava a faca da minha mão. Ouvi o baque do metal no concreto e senti alívio. Me arrependi de ter chegado até onde estava. Despedi-me de minha consciência. Agora era eu, e estava apaixonada. Por mim. Pela vida. Pela liberdade.
- Mas, já? - disse eu.
- Não sei, me diga você. Mas, já?
- Estou com frio. Tudo em mim dói. Só ouço o vazio da solidão e escuto o que não se ouve. Acho que já.
- Então vamos. Dai-me a mão.
- Temo.
- Ficar aqui, ou ir comigo?
- Arrepender-me.
- Não vale à pena viver arrependido... é apenas o passado te destruindo no presente.
- Pedaços de mim caem.
- Podemos pegá-los no caminho. Vamos logo?
- Direto?
- Sim, sem escalas.
- Só nós duas?
- Mas é claro.
- Não.
- Não?
- Acho que amar é o suficiente pra me fazer ficar.
Assim largava a faca da minha mão. Ouvi o baque do metal no concreto e senti alívio. Me arrependi de ter chegado até onde estava. Despedi-me de minha consciência. Agora era eu, e estava apaixonada. Por mim. Pela vida. Pela liberdade.
sábado, 23 de outubro de 2010
Mary and Max.
Ele longe. Ela distante. Ele fugia dos padrões, fugia do real, do concreto. Era irônico, vivia numa selva de concreto. Ela era distante, era estranha, era insatisfeita. Ele não amava a si próprio, era sozinho, não tinha amigos. Ela não gostava de si, tinha apenas a si mesma e não tinha amigos. E por meio de palavras, se encontraram. Não se viram não se tocaram ou sentiram seus cheiros. Apenas sentiam nas palavras escritas, o fogo ardente de uma amizade entre dois estranhos. Deram-se oportunidades, de errar, de ser imperfeitos, de desejar a morte, de sentir na boca o gosto adocicado do chocolate e de sentir no peito as saudades. Ele segurava a palavras e sorria dentro de si mesmo, para si mesmo. Ela olhava a foto dele, derramando lagrimas de uma aflição crescente. Ela saiu de longe, e foi pra perto. Perto dele. Já era tarde. Jazia ele ali, coberto pelo tempo e envolvido nas saudades de alguém que nunca viu. Mas então, ela entendeu. Que mesmo longe, os dois fizeram algo, que nenhum dos dois conseguiu sozinhos. Ela própria, não conseguia ate o momento. Ele a amou. Ela o amou. Amou mais do que amava o próprio chocolate. Amou mais que a si mesma. Amou uma idéia. Amou um amigo.
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Parte.
Fui tudo. Eterno. Silêcio. Amor. Saudades. Raiva. Arrependimento. Fui vírgula. Céu. Mar. Carne. Alma. Grito. Cinema. Música. Alegria. Tristeza. Dor. Sofrimento. Fui amiga. Amante. Séria. Boba. Sábia. Medo. Fui coragem. Verdade. Obessesão. Sonho. Realidade. Fui eu. Outro. Teto. Chão. Perfume. Macia. Desconfortável. Olhar. Risada. Fui sentimento. Suspiro. Olá. Lar. Presente. Passado. Cachorro. Gato. Fui infinita. Paixão. Ardor. Bater. Cabelo. Vento. Sol. Fui filosofia. Política. Medicina. Xadrez. Listras. Branco. Preto. Fui arte. Sangue. Soluço. Janela. Quando te amei fui tudo isso. Agora sou só uma parte.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Andando
- Você vai simplesmente continuar andando?
- Acho que sim.
- Meu maior desejo seria descobrir o que se passa por essa sua cabecinha.
- O meu maior desejo seria descobrir para onde estou andando. Mas meu segundo maior desejo seria descobrir por quê estou andando. E o terceiro, seria esquecer de tudo o que descobri. A surpresa é tão gostosa...
- Você poderia parar de andar e começar a me escutar.
- Estou te escutando. Só optei por não te ouvir.
- Retiro o que disse.
- ...
- Não vai me perguntar o que retirei?
- Não.
- Pois eu digo mesmo assim, retirei o que disse sobre meu maio desejo.
- Também retiro. Meu maior desejo é descobrir por que motivo você está andando junto à mim!
- Já chega. Meu maior desejo é descobrir qual o teu problema.
- O meu problema, é que minhas pernas são curtas demais para caminhar por todos os caminhos da vida.
- Eu te carrego quando se cansar.
- Meu problema, é que os medos estão enchendo meu coração e deixando rastros de dor nele...
- Pois eu te dou o meu coração para substituí-lo.
- Meu problema, é que não sei o que sentir.
- ...
- Acabaram suas soluções, não acabaram?
- Minha solução pra isso, é que te amo.
- O meu maior problema, é te amar de volta.
- Problema?
- Sabe por que estou andando?
- Não, mas nem você sabe.
- Na verdade, sempre soube, mas tendo a me esquecer de novo, e de novo...
- Por que, então?
- Estou fugindo de te amar. Te amar é meu problema. Te amar demais é meu problema. Preciso ser feliz, e não me machucar e voltar aos teus braços que logo cedem ao peso do meu corpo e me largam sozinha, dolorida, feriada, machucada.
- Prometo não te magoar de novo.
- Pois eu prometo continuar andando, e não olhar mais pra trás.
- Acho que sim.
- Meu maior desejo seria descobrir o que se passa por essa sua cabecinha.
- O meu maior desejo seria descobrir para onde estou andando. Mas meu segundo maior desejo seria descobrir por quê estou andando. E o terceiro, seria esquecer de tudo o que descobri. A surpresa é tão gostosa...
- Você poderia parar de andar e começar a me escutar.
- Estou te escutando. Só optei por não te ouvir.
- Retiro o que disse.
- ...
- Não vai me perguntar o que retirei?
- Não.
- Pois eu digo mesmo assim, retirei o que disse sobre meu maio desejo.
- Também retiro. Meu maior desejo é descobrir por que motivo você está andando junto à mim!
- Já chega. Meu maior desejo é descobrir qual o teu problema.
- O meu problema, é que minhas pernas são curtas demais para caminhar por todos os caminhos da vida.
- Eu te carrego quando se cansar.
- Meu problema, é que os medos estão enchendo meu coração e deixando rastros de dor nele...
- Pois eu te dou o meu coração para substituí-lo.
- Meu problema, é que não sei o que sentir.
- ...
- Acabaram suas soluções, não acabaram?
- Minha solução pra isso, é que te amo.
- O meu maior problema, é te amar de volta.
- Problema?
- Sabe por que estou andando?
- Não, mas nem você sabe.
- Na verdade, sempre soube, mas tendo a me esquecer de novo, e de novo...
- Por que, então?
- Estou fugindo de te amar. Te amar é meu problema. Te amar demais é meu problema. Preciso ser feliz, e não me machucar e voltar aos teus braços que logo cedem ao peso do meu corpo e me largam sozinha, dolorida, feriada, machucada.
- Prometo não te magoar de novo.
- Pois eu prometo continuar andando, e não olhar mais pra trás.
domingo, 10 de outubro de 2010
Sem análise.
- Bom dia.
- Bom dia...
- O que foi?
- Por que 'Bom dia'?
- Por que é de manhã. E costumamos dizer isso quando encantramos alguém de manhã.
- Também costumam os outros comer sorvete de chocolate, e nem por isso a gente tá tomando um.
- Ah, você tem sempre que analisar TUDO.
- Sempre é uma palavra muito forte. Utilizemos o vulgo "quase sempre".
- Tá me irritando.
- Também irrita à mim.
- O que?! Não estou fazendo nada, você que é toda diferentezinha, e fica aí analisando tudo o tempo todo...
- Exatamente.
- Exatemente O QUE?!
- Você não está fazendo nada...
- E daí?!
- E daí que se você analisasse as coisas um pouco mais, perceberia que estou louca pra te beijar.
- Está?
- Sim.
- E se eu te beijar, vai parar de analisar as coisas?
- Creio que sim.
- Então vem cá.
- "Cá" aonde? As pessoas costumam se referir à todo lugar do mundo como "cá", quando na verdade existem mundos tão diferentes e...
- Desisto.
- Desiste?
- Não sei como eu te amo tanto.
- Ama?
- Vai analisar isso também?
- Não, amor não se analisa.
- Bom dia...
- O que foi?
- Por que 'Bom dia'?
- Por que é de manhã. E costumamos dizer isso quando encantramos alguém de manhã.
- Também costumam os outros comer sorvete de chocolate, e nem por isso a gente tá tomando um.
- Ah, você tem sempre que analisar TUDO.
- Sempre é uma palavra muito forte. Utilizemos o vulgo "quase sempre".
- Tá me irritando.
- Também irrita à mim.
- O que?! Não estou fazendo nada, você que é toda diferentezinha, e fica aí analisando tudo o tempo todo...
- Exatamente.
- Exatemente O QUE?!
- Você não está fazendo nada...
- E daí?!
- E daí que se você analisasse as coisas um pouco mais, perceberia que estou louca pra te beijar.
- Está?
- Sim.
- E se eu te beijar, vai parar de analisar as coisas?
- Creio que sim.
- Então vem cá.
- "Cá" aonde? As pessoas costumam se referir à todo lugar do mundo como "cá", quando na verdade existem mundos tão diferentes e...
- Desisto.
- Desiste?
- Não sei como eu te amo tanto.
- Ama?
- Vai analisar isso também?
- Não, amor não se analisa.
Mesmo final?
Acordei pensando em como seria bom estar dormindo. Andei pensando em como daria tudo pra estar deitada. Sonhei pensando em como seria bom poder estar vivendo. Foi quando vi. Que amor e dor, terminam exatamente da mesma forma. Terrível.
Sonhei.
Hoje sonhei. Simplesmente deixei que meu inconsciente viajasse por sobre as mentes alheias e dançasse na sombra do impossível. Fechei os olhos, e por menor que o tempo fosse, sonhar me pareceu o estado espiritual mais eterno. Minhas mãos viajaram nas texturas dos pesadelos e tremeram antes de sossegarem ao som da realidade. Minhas têmporas pesaram levando uma dor aguda às memórias de um passado de ralidades inconcretas. O corpo contraido numa forma que só quem sonha conhece. O mundo perdeu sentido, perdeu o que tinha de real. Hoje sonhei. E de manhã, quando acordei, corri até a janela pra saber se tinha mesmo acordado. Senti na pele as lágrimas que choravam sem que ao menos eu pudesse segurá-las. Hoje sonhei e não queria ter acordado. Amanhã, os sonhos serão minha única realidade.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
O passado.
Este texto e vídeo ( http://www.youtube.com/watch?v=1ZwEqthryM0&feature=player_embedded#! ), me trouxe as lágrimas da compreensão e dor de uma vida díficil. Me trouxe as lágrimas de entendimento de algo com o que somos obrigados a conviver. Foi retirado de um vídeo elaborado por um paciente do Pinel, que sofre de esquizofrenia. Neste projeto elaborado por lá, cada paciente pôde contar alguma história, Samy, contou a dele, assim:
"Primeiro dia no hospital; estrevista com as terapeutas. Minha mãe estava me acompanhando. E ele estava lá.
No dormitório; com outros pacientes. E ele estava lá.
No refeitório; duas refeições por dia. E ele estava lá.
Indo num passeio. E ele estava lá.
Terapia ocupacional, desenho, pintura, escultura, colagem, bate papo. E ele estava lá.
Artesanato, bijouteria, fabricação de velas, costurar tapetes, massa, biscuit. E ele estava lá.
Vendo televisão; sessões de vídeo. E ele estava lá.
Fazendo o jornal. E ele estava lá.
Fazendo uma palestra. E ele estava lá.
Continuo a viver a minha vida. Ele, o passado, continua na minha frente." - Samy, aluno da oficina de pacientes do Instituto Philippe Pinel no Pontão de Cultura da ECO/UFRJ.
"Primeiro dia no hospital; estrevista com as terapeutas. Minha mãe estava me acompanhando. E ele estava lá.
No dormitório; com outros pacientes. E ele estava lá.
No refeitório; duas refeições por dia. E ele estava lá.
Indo num passeio. E ele estava lá.
Terapia ocupacional, desenho, pintura, escultura, colagem, bate papo. E ele estava lá.
Artesanato, bijouteria, fabricação de velas, costurar tapetes, massa, biscuit. E ele estava lá.
Vendo televisão; sessões de vídeo. E ele estava lá.
Fazendo o jornal. E ele estava lá.
Fazendo uma palestra. E ele estava lá.
Continuo a viver a minha vida. Ele, o passado, continua na minha frente." - Samy, aluno da oficina de pacientes do Instituto Philippe Pinel no Pontão de Cultura da ECO/UFRJ.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Maio, 2010
Que saudades daquela que um dia sorriu pra mim, encarando-me refletida no espelho. Hoje só consigo ver as lágrimas que me cobrem os olhos, e sinto umas saudades... Daquele sorriso. Daquele outro alguém.
-
"Nota-se o quão insignificante tu eres, ao enxergar a imensidão do mundo todo; nota-se sua grande importância, ao notar, que sem ti, o todo não é nada."
Engrenagens.
Vi a vida como uma grande maquinaria, com engrenagens enferrujadas, e com um som ensurdecedor. Cada engrenagem movendo-se em sintonia, como se fossem passos. A primeira, ainda virgem, sem muito contato com o mundo, com tantas idéias, tantas aspirações... Aquela imparável, infreável, representando um limite entre o racional e o irracional, ou mágico e o mundano. E essa novidade, movendo uma segunda, um segundo passo. Este por sua vez começa a se enferrujar com a voz da experiência, aprendendo a cair e curar as feridas, ainda sonhando com mudanças absurdas e ao mesmo tempo possíveis, olhando e fazendo, vivendo e aprendendo mais e mais. Procurando com sede conhecimentos para enrriquecer-se, procurando a liberdade almejada. Por sua vez, enferrujada, mais lenta e porém livre, a terceira engrenagem se move, produzindo sons de uma manhã cansada, intensa, verdadeira. Uma coisa que já ultrapassou os limites do impossível e já sentiu no corpo o gosto de um amor e a dor de um desprezo, que já olhou e teve de olhar, que traumatiza as pequenas partículas com encantos de um passado tão vivido, tão arrependido talvez, tão mal aproveitado. Por fim, enferrujada, a última engrenagem, que se movendo quase que parada, dança uma dança final. Sorri e canta as verdades e besterias de uma vida mortal e finita, engolindo e assimilando esperiências de algo que parece que aconteceu ontem. Sendo obrigada a ver um verde e esperar que seja eterno, e adormecendo num movimento. Para. A máquina desiste, cansa, dorme. E suas engrenagens ainda vivas. Simplesmente, por que nunca estiveram sozinhas.
sábado, 2 de outubro de 2010
Todo mundo já chorou.
Todo mundo já chorou. Sentiu a alma caindo na forma de lágrimas, saindo e tocando a pele do rosto. Sentiu o mundo desabar nos próprios ombros. Sentiu o frio chegar ao corpo e abraçou a si mesmo, na esperança de fugir do calafrio eterno de uma mágoa incurável. Sentiu medo, transcendente, fenomenal, desumano. Sentiu a falta de ar nos pulmões latejantes de dor. Sentiu os joelhos dobrarem, lentamente, quase que numa dança, até encontrarem o duro do chão e acordadrem de um sonho no qual voam! Sentiu a confusão se apoderando de cada pequena célula do corpo. Sentiu que era inútil, intangível. Sentiu tanto e ao mesmo tempo, sentiu que nada daquilo foi suficiente. Sentiu a impotência por sobre os céus da consciência e por isso, sentiu raiva. Sentiu raiva até que sua garganta arda de dor, por gritar um grito agoniante, silencioso, intenso. Sentiu aflorar no peito um calor que dói. Sentiu tudo isso, e só apareceram as lágrimas? Todo mundo já chorou. Mas será o choro suficiente? Será algo suficiente? Quando no mundo, existe o ator, que chora quando quer e onde quer. Meso sem sentir nada. O que será chorar, então?
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
-
Recomendo esse filme. "Em busca da Terra do Nunca" é a história de fantasia e paixão que todos nós precisamos ver, e sim, é bem triste, mas vale à pena. Cada segundo vale à pena.
"Peter: É só que achei que ela sempre estaria aqui.
James: Assim como eu.
Mas, na verdade, ela está, porque ela está em cada página de sua imaginação.
Estará sempre lá. Sempre.
Peter: Mas por que ela teve que morrer?
James: Eu não sei, Peter. Quando eu penso em sua mãe, sempre vou me lembrar como ela parecia feliz, ali sentada na sala assistindo a uma peça sobre sua família, sobre seus filhos, que nunca cresceram. Ela foi para “A Terra do Nunca”. E você pode visitá-la sempre que você quiser, se você quiser.
Peter: Como?
James: Crendo, Peter. Basta acreditar."
"Peter: É só que achei que ela sempre estaria aqui.
James: Assim como eu.
Mas, na verdade, ela está, porque ela está em cada página de sua imaginação.
Estará sempre lá. Sempre.
Peter: Mas por que ela teve que morrer?
James: Eu não sei, Peter. Quando eu penso em sua mãe, sempre vou me lembrar como ela parecia feliz, ali sentada na sala assistindo a uma peça sobre sua família, sobre seus filhos, que nunca cresceram. Ela foi para “A Terra do Nunca”. E você pode visitá-la sempre que você quiser, se você quiser.
Peter: Como?
James: Crendo, Peter. Basta acreditar."
Fotografia.
Em meio à registros fotográficos, ele começou a chorar. Ele segurou nas mãos trêmulas aquela foto em preto e branco e acabou por molhá-la com a água doce das ácidas lágrimas. De tempo em tempo, quando achava que seu coração estava morrendo, e morrendo de verdade, levava a fotografia ao peito. Trazia a imagem pra perto de si, tentando assimilá-la, trazê-la à vida. Olhava seus pés sem firmeza pregados ao chão e seus mocassins azul marinho surrados, que o faziam lembrar tanto da época em que voava e estes nunca tocavam o solo. Sentiu o frio acalmando-lhe as células do corpo, uma por uma. Assim, o arrepio lhe veio, deixando a dor de uma saudades sem fim. Quem o visse, diria que estava sofrendo por amor. Talvez estivesse, mas nada mais importava. Levou uma mão aos cabelos desgrenhados e negros enquanto com a outra, segurava um pedaço de papel desenhado. Segurava com tanta força que parecia que assim que o soltásse, este voaria até mundos nunca explorados. Estava tão só. Estava com ele mesmo e memórias de um passado tão eternamente acabável. Sua respiração agitada sentia o cheiro de rosas murchas e seus lábios estavam parcialmente separados e tentados a gritar. Gritar e nunca mais parar. "Te amo" - sussurrou num tom nunca ouvido por seres humanos, e na esperança de que alguém ainda pudesse ouví-lo. Levou um líquido parecido ao néctar até seus lábios e sentiu na garganta o formigamento. O formigamento de uma morte sem dor. Sem ela, a vida não valia à pena. Sem amar, não valia à pena. Sem certezas de algo tão incerto, não valia mais. Seus joelhos cederam ao peso de seu corpo, e adormecido em seus encantos, sua mão abriu e a fotografia voou. Voou até seu peito. Na tentativa de reverter a morte. Trazer de novo a vida.
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